Gostava de viver num mundo onde o Amor fosse uma utopia e ninguém acreditasse que existia. Como o socialismo de Karl Marx, mas fazendo com que as lutas de classes nesse dia, ditassem um planeta novo. Onde as revoluções seriam feitas com flores, que nasciam com mecanismos mecânicos, os quais libertavam cores e cheiros, apenas com o pensamento.
Então vivia-se em permanente absurdo e o tempo era passado a idealizar, não apenas um lugar, mas uma vida, um futuro, uma visão fantasiosa contrária ao mundo real, onde já tínhamos vivido. A democracia não tinha fundamento, sendo a filosofia política fundamentada na liberdade individual, que determinava que cada indivíduo fosse responsável pela própria vida. A estabilidade emocional era controlada por um botão de ligado e desligado, que se encontraria nas ruas, e a cada passo que efectuássemos existia duas opções, ou seja, se estivesse desligado, estaríamos felizes, se estivesse ligado, seria que tínhamos encontrado a felicidade.
Seria um local, onde se abolia a existência de dinheiro e todas as pessoas tinham tempo livre para apreciar a arte. Enquanto isso, no céu chovia alimentos em forma de estrelas, que nos alimentava sempre que o apetite surgisse. Só faltaria depois, estender a toalha sobre a mesa, preparar os melhores talheres, levantar o prato para o ar e aguardar que a comida caísse, enquanto outros escolheriam uma cadeira para se sentar.
Mas eu não. Eu sento-me no chão. Não consigo sentir o contacto doce e meigo desta refeição.
Sei que esta é uma narrativa inspirada em clichés linguísticos e baseada em contos infantis, onde as refeições aparecem vindas do ar. São histórias onde a farsa, dá origem ao drama de quem passa fome.
Fico então agarrado à fraqueza e num exagero feroz, levanto-me e vou-me embora. Fecho os olhos e assobio uma melodia terna, de forma a sentir-me vivo. Quanto mais tempo vou eu aguentar sem me alimentar? Quanto tempo mais vou eu passar por casas onde as refeições abundam e ouvir dizer que a comida não sabe a nada? Aí, se eles soubessem, que a pior refeição que podem ter, é não ter nada para comer.
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