
Os leitores do blog que me perdoem a falta de rigor dos meus escritos, mas estou aqui como se estivesse a conversar com um grupo de amigos, na Praça da República, como era usual outrora, sem preocupação de datar com precisão os factos, mas procurando o colorido dos mesmos.
Vou palmilhar um tempo, em Aldegalega, em que se trabalhava de sol a sol, mas, aos fins-de-semana, «as senhoras trajavam elegantes toilletes, fazendo sobressair mais ainda a beleza das suas formosuras», quando iam ao teatro ou aos bailes, no princípio do século XX.
A vila era escura, mal iluminada por escassos candeeiros alimentados a azeite ou a petróleo, não tinha uma sala de espectáculos, nem tão-pouco conhecia o animatógrafo, mas divertia-se «em soirées dançantes recheadas de infinita graça e animação», que, algumas vezes, se prolongavam até às quatro horas da manhã, e nas quais participavam «as melhores famílias da elite da vila», que bailavam ao som do piano ou de um trio formado por piano, rabecão e viola ou bandolim, guitarra e viola. Por esta altura, já a Sociedade Filarmónica 1º de Dezembro se tinha erguido como forte esteio cultural e social da vila.
No início do século XX, Manuel Ferreira Giraldes, proprietário que foi da Farmácia Giraldes (R. Direita, ao lado da Pastelaria Mimosa), além de político, foi o primeiro presidente da Câmara Municipal de Aldegalega eleito pelo Partido Republicano, em 1908, era também um dos impulsionadores do movimento cultural em Aldegalega.

No dia 10 de Dezembro de 1904, «subiu à cena, pela primeira vez, o drama em três actos, intitulado, Expiação, de que é autor Manuel Ferreira Giraldes (…). O desempenho do grupo dramático da vila foi correcto, sendo atirados para o palco muitos ramos de flores. Foi uma noite muito bem passada»,
O grupo amador da vila, as trupes itinerantes, o circo, as companhias de teatro e de opereta de Lisboa, a par dos bailes preenchiam os serões de fim-de-semana das «famílias da elite de Aldegalega», no início do século XX.
Por aquele tempo, «deu-nos uns momentos de prazer o actor Roldão, cantando os seus melhores fadinhos. No fim do espectáculo e a pedido dos espectadores cantou novos fados o cantor Roldão. Foi muito aplaudido.»
Assim acontecia em Aldegalega, em que, pela Páscoa, se assinalava a queima do Judas e «os garotos armados de cacetes invadiam, no sábado de aleluia, as ruas por onde passavam com o fim de espancarem e queimarem o traidor discípulo de Cristo.»
Houve tradições que se perderam, mas, ainda hoje, mudando-se os modos, mantém-se a emoção do convite formulado ao longo dos séculos:
- “A Menina dança?”
Texto Enviado Por: Rui Aleixo