História

A minha foto
Uma Cidade orgulhosa da sua História, mesmo sendo Aldeia Galega desde 1514,reconhecida por Montijo a partir de 1930! Montijo, Capital da Felicidade! Uma Cidade, Uma Causa, MONTIJO por Amor, PORTUGAL por Devoção! Contacto: montijoportugal@gmail.com

VISITANTES

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Rua da Graça, Montijo!

Há um vento que sopra desde os primeiros tempos, que não sabemos quando aconteceram, e a esse vento chamamos tempo. E o tempo levanta uma ténue nuvem de poeira, que se vai depositando sobre as coisas, a que chamamos memória. Descobrir a memória do tempo é contarmos sem pretensão a história das coisas e das pessoas da terra que nos acolhe.
A Ermida de S. Sebastião encerra, na entrada da sua capela-mor um mistério: o belo arco manuelino, que ali foi colocado em momento posterior à sua construção. Não se sabe quando foi construído ou de onde veio, mas confere àquele local uma majestade que de outro modo a modesta construção não alcançaria. A Ermida está nua dos seus mais coevos santos. Em 1980/81 foi pilhada e levaram o seu mais importante tesouro – uma imagem de Sebastião talhada em madeira.
Recuemos no tempo. Século XVII ou XVIII… ou mesmo início do século XX.
A Rua da Graça é escura. À noite, a ténue chama dos raros candeeiros a petróleo não alcança a extrema da vila onde se localiza a Ermida de S. Sebastião. Contígua à ermida está uma casa, que parece solitária pelo silêncio que a envolve. Um vulto destaca-se na noite fria, envolta em grossa capa. Nada se distingue. Desaparece na escuridão. Passados escassos momentos, de passo apressado, envolve-se, de novo, na escuridão da vila. Ninguém o viu – ou se o viu ignorou. Ignora-se sempre quem se dirige para aqueles lados àquela hora não vá o Cor fadário tecê-las. O que faz ali aquela criatura, naquela noite fria? A casa responde à pergunta.
O silêncio da casa fora interrompido pelo tocar da sineta e pelo leve chiar de uma roda. Uma mulher, de aspecto pesado, levanta-se, faz uma ligeira pausa e lentamente dirige-se para a porta. Não a abre. Sabe que não o deve fazer. Conhece bem as regras. O silêncio é de ouro e não se deve ver, ouvir e falar. Baixa-se e da roda retira mais uma criança abandonada, um desvalido da sorte. Volta a colocar a roda na posição inicial. Repara nas roupas mono gramadas, na boa qualidade dos tecidos e murmura aos seus botões que é filho de gente rica que passou à condição de Exposto da Roda. A criança chora. Aconchega-o. Mais tarde, redobrando a criança o choro, corre à casa da ama-de-leite e acorda-a. Há um menino para alimentar. As duas mulheres perdem-se na madrugada gélida. No dia seguinte a criança receberá o nome de Manuel e será levada para a Roda dos Expostos de Lisboa.
A Roda dos Expostos de Aldegalega do Ribatejo localizava-se junto à Ermida de S. Sebastião. O livro de descrição Geral dos Bens Próprios do Município de Aldegalega, elaborado na segunda metade do Século XVIII, descreve-a assim:
“Ermida de S. Sebastião e casas anexas com seu quintal contígua ao cemitério público, com sua sacristia, uma pequena casa de entrada e dois quartos onde outrora era a Roda dos Expostos”.
A rodeira recebia, no final do século XVII, $524, que eram suportados pela Câmara Municipal de Aldegalega. O cofre municipal era também responsabilizado pelas despesas com o enxoval para os expostos, o transporte dos desvalidos da sorte para a Roda de Lisboa, e pelas remunerações às amas-de-leite e amas-secas.
Registe-se por todas, o nome de Antónia Reveza, que foi rodeira em 1798.

P.S. Rua da Graça = Rua Joaquim de Almeida

Texto Enviado Por: Rui Aleixo

Sem comentários: