Palavras Criativas!

Vivo como se fosse um autocolante, à espera de ser colocado na caderneta, provocando um sorriso no momento em que não sou repetido, e fico, ali, colado, para sempre. Não sou a maior das infelicidades, mas também não vivo feliz. E, depois, há ainda a outra possibilidade, o destino de vir a valer uma fortuna, se a colecção estiver completa. Mas, o destino, que não atura tão cega e ingénua ilusão, sortido e farto dos contos do vigário e horror à competição, pode punir aquele momento em que saí da saqueta e fiquei estacionado na página 14, no quadrado 221. "Que fiz eu para ser tão infeliz?", e tu nunca, mas nunca vais compreender, que eu sou o cromo mais difícil de aturar, mas o mais fácil de cativar. E a colecção, até pode ser admirável, cheia de génios, mas desculpa-me a franqueza, não te dá a sensação, ser uma vida monótona e forçada, ficar ali colado para a eternidade? Perdoa-me então, trazer assim problemas tão íntimos, mas gosto de fazer parte da tua colecção, mas não desejo que me troques por outro autocolante, mesmo que não completes a caderneta, pois tens-me a mim, e eu, meu amor, nas caixas todas desta edição, não saio a mais ninguém, e só tu, mesmo que demore muito tempo, vais perceber que és a única que pode acabar esta colecção, que é a tua, a minha, a nossa vida.