Apanho boleia do vento e sigo ao calhas, levado pelas rajadas de uma brisa forte, que ao bater na camisa faz parecer as velas de um barco em alto mar! Procuro visualizar o vazio da minha vida, preenchendo a mesma com imagens que me façam feliz! Vejo dois miúdos a brincar, rolando berlindes de mil cores e a fazer pontaria a uma cova feita no chão! Um casal de namorados beija-se no banco do jardim, onde outrora passei gloriosas tardes a jogar às balizas pequenas e festejar cada golo, como se fosse a final do campeonato do mundo de futebol! Deparo-me de frente com um grupo de miúdas a correr muito velozmente, e ouço uma voz num intercomunicador do prédio a gritar, dizendo que para a próxima vez que tocarem à campainha a brincadeira vai ser diferente! Passo pela casa onde vivi largos anos e fico parado a olhar para a janela, à espera que a minha avó me chame para ir lanchar! Não chamou, não lanchei e segui caminho na tentativa de encontrar um brinquedo, que me libertasse do síndrome de adulto que me assola a alma, na loja que sempre existiu na esquina da casa da minha avó! Andei por caminhos, onde os carros tinham liberdade de passagem e que hoje apenas entram nestas ruas para fazer cargas e descargas! Vim à parte de trás da pastelaria perguntar pelo senhor António, na esperança que me desse aquele bolo especial com que me brindava no final do turno e adocicava o meu dia! Mas já não trabalhava ali, "faz hoje 12 anos", disse-me o jovem que o foi substituir! Estou de frente ao rio agora, tiro os ténis de repente, na esperança de dar um mergulho cá de cima do cais, mas a maré está vazia e não me apetece enfiar a cabeça na lama e nadar em seco! Faço agora o caminho inverso, mas o vazio ainda subsiste dentro de mim, sendo que agora, cada segundo é martirizado pelo pensamento do porquê de termos de crescer tão rápido e deixar as melhores coisas do mundo, guardadas a sete chaves no báu das memórias! Encho-me então de brio e volto ao mundo dos adultos, ficando familiarizado com alguns fragmentos da vida passada, anonimamente contados pelo meu cérebro, mas que ao ver-te, e fazendo combinações de detalhes inocentes, o meu coração suspira e deixa na minha consciência a sensação de que contigo o mundo é sempre vivido no reino do encanto, onde me fazes sentir uma criança, a cada dia que envelhecemos juntos!
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