Na água rosa e laranja que o céu barrento lavou, acaba-se de montar sonhos de cristal... Como se fosse um deserto, os flamingos fogem em debandada, assustados com a linha do horizonte em forma de bruma negra, que a luta da claridade vai travar com a escuridão... Restos de fantasmas navegam agora no silêncio das águas, atormentando as flores ruidosas a que haviam de chamar de corações... Muito depois dos dias e das estações, a carne sangrenta cintila na chuva de gelo, que o vento de diamantes carboniza eternamente no coração terrestre... No emergir de um abismo, as formas, os olhos, os cheiros, os cabelos, os suores, os lábios, as mãos, o mundo flutua, até se ouvir novamente a voz feminina de um anjo vindo do fundo dos vulcões... Uma erupção desperta um infinito esplendor invisível aos olhos de um comum mortal, nunca se suspeitando que os seus segredos mais secretos enlouquecem, tornando-se numa aterradora vivência de alegria... Saltos de harmonia fazem ignorar agora uma anarquia notável da maravilha que é o teu ser, fazendo do momento onde o silêncio é astral uma dança superior, mesmo não havendo música e onde o prazer do teu encanto faz a predilecção de uma vida única, e sem ti um luto onde a claridade obscura é magnética... A vida é simples, como uma frase musical, apenas queiramos ouvir a nossa melodia...J.C.P. - Montijo
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