Era de noite e chovia sem parar, como naqueles dias antigos de Inverno. Já estava tão habituado ao Verão, onde o sol brilhou durante cinco anos ininterruptamente, que esqueci-me, apagou-se da minha memória, que chove sempre quando estamos tristes. Sem sono, e sem vontade de dormir, fiz da minha nova prisão o meu lar, pois é preciso sair do ódio, para saber onde queremos ficar, onde tudo se passa. Não te queria largar, mas a vontade de estar também era pouca, pois o que nos fazia mal, era também o que nos sabia bem. Neste tempo todo, estive sempre muito mais perto de chegar. Tu sempre mais perto de ir. Como é estranho ver o nosso sentimento mudar, mesmo que não adiante nada na nossa vida, pois vamos ser sempre nós. Nunca vou pensar em mim sozinho, vou pensar sempre que cheguei a ser dois. O silêncio era agora onde tropeçávamos, as palavras o local onde nada mais seria vida. Como tal, só nos restava limpar os pés em cima do sorriso de cada um e acreditar na última mentira. Mas a última mentira não podia ser contada por nenhum de nós, não podia ficar a sensação de que algum de nós se despediu a mentir. Tínhamos que arranjar um narrador para o nosso final, alguém que fosse capaz de analisar a nossa suposta vida e de nos calar a voz. Alguém que dissesse algo deste género: "Ela contou-lhe histórias de amor. Juntos aprenderam a sorrir. Amavam-se, mas ele não queria crescer e viver a vida dela como gente adulta".
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