Inauguração Praça de Touros - Montijo - 1957
A praça de touros foi inaugurada em 1957, ano em que foi inaugurado o Cinema Teatro Joaquim de Almeida, o mercado e a cadeia. Montijo é uma Terra ribatejana e tem uma cultura vivida durante séculos na festa dos touros. As populações gostam de assistir às inaugurações e aquele ano foi um dos anos de grandes emoções para os montijenses. Conheci a praça de touros de madeira e fui à inauguração da actual praça de touros em 1 de Setembro de 1957. Não sou um grande aficionado, mas estou perfeitamente integrado nesta cultura. Sempre gostei de ver uma ou duas corridas por ano. Como em tudo na vida e numa actividade que tem séculos de existência, a tauromaquia em Aldeia Gallega/Montijo, tem passado por maus e bons momentos e hoje atravessa um bom momento. Existem no concelho de Montijo: uma praça de touros, bonita, bem conservada, com lugares suficientes para rentabilizar os espectáculos, mas que precisa de ser melhorada para dar mais comodidade aos espectadores, dois cavaleiros profissionais, dois grupos de forcados amadores, dois comentadores de televisão, uma escola de toureio, duas tertúlias, um grande interesse por debates sobre tauromaquia, um jantar anual para premiar os melhores toureiros da temporada. As festas populares de S. Pedro iniciaram-se em 1951 e tiveram nos anos seguintes grande sucesso, mas toda a gente dizia que o sucesso só seria completo se tivéssemos uma praça de touros com a integração de corridas no programa das festas, o que aconteceu nas festas de 1958. Há séculos que existe um grande entusiasmo pela festa dos touros na nossa Terra e para o confirmar a seguir transcrevo uma parte um texto/relato de José de Sousa Rama publicado no seu livro COISAS DA NOSSA TERRA: “Tinham decorridos largos annos sem que houvesse toiradas nesta villa. Fora talvez devido a este facto, que os principais habitantes de Aldeia Gallega resolveram, em Julho de 1862, mandar construir uma praça, oonde se realisassem duas grandes corridas de toiros, lidados por curiosos, por occcasião das pomposas festas da Piedade. Resolveram também, que esses dois divertimentos que tanto despertam a curiosidade popular, fossem gratuitos. Divulgada a notícia, apoderou-se de toda a gente uma louca febre de entusiasmo, a ponto de os operários trabalharem com tal actividade que, dias antes dos designados para as corridas – 24 e 25 de Agosto-, já a praça estava prompta. Verdade é, que os constructôres pouco se preocuparam com ornamentações, sólidos troncos de pinheiros e boas taboas de pinho, constituíram quasi o único material empregado na obra. Segundo a opinião dos peritos a praça era grande e estava construída com solidez. Por occasião da festa da Piedade, era costume fazer-se nesta villa, no largo fronteiro à igreja matriz (hoje praça Serpa Pinto), uma feira composta de barracas de lona, onde se vendiam quinquilharias, doces e refrescos, costumando também ali concorrer, uma companhia de saltibamcos que armava a sua barraca, no mesmo largo, do lado sul. Suppôe-se que, no louvável desejo de proporcionarem a toda a população uma agradável diversão, os directôres das corridas decidiram que os toiros entrassem na praça, às sete horas da manhã, percorrendo a villa na sua maior extensão, isto é, desde a Quinta das Postas (Parte desta quinta ainda existe, pertence a Lurdes Leite) até à Graça. Para o sítio das Fontainhas(hoje faz parte da B.A.6), onde o gado pernoitara, logo de manhã cedo partira numerosa cavalgada, composta dos curiosos que tomavam parte nas corridas e de muitos outros rapazes que quiseram acompanhá-los.. Calcule-se, pois, o aspecto que apresentaria Aldeia Gallega, sob o claro sol do dia 24 de Agosto de 1862, achando-se todas as janellas, ruas e largos, por onde devia passar o gado, apinhados de gente anciosa por disfructar um espectáculo tão prdilecto do povo ribatejano:- as entradas!Por volta das sete e meia, começou a ouvir-se, para os lados da rua de Santo António(hoje Avenida dos Pescadores), grande sussuro produzido pelo trotar dos cavalos, toiros e cabrestos, e também pelo enorme alarido da gente que nessa rua presenciava o desfilar do cortejo. Ao chegar ao largo feira, um dos toiros foge e, mettendo-se por entre as barracas, vae collocar-se no recanto que fica em frente da porta principal da igreja. Entretanto, o gado segue quasi a galope e, entrando na rua Direita, encaminha-se para a praça. Os cavalleiros que tinham ficado no largo, na doce ilusão de poderem conduzir o toiro tresmalhado para a praça, espalham-se pela feira, cada um alvitra a sua ideia, mas nada conseguem resolver. Por fim, o mais corajoso, aproxima-se do toiro, applica-lhe a vara, esta com a resistência parte-se, o cavallo é ferido no peito, o cavalleiro resvalando pela garupa, encontra-se de pé, em frente da cabeça do toiro, a um metro de distancia! Esta scena acaba de desorientar por completo os inesperientes cavalleiros. Um delles, para ir em socorro do amigo, apoia-se e abandona o cavallo| Mas o toiro, em furiosa correria por entre as barracas, parece querer varrer a feira. Ao encontrar o cavallo abandonado, atira-se a ele com valentia, e mata-o. Nesse momento, apparecem os campinos (era tempo!...) e conseguem envolver o toiro entre cabrestos, conduzindo-o assim para a praça. Nós estávamos numa janella, em sítio onde não podíamos observar tão sensacional acontecimento. Ouvimos, porém, narrar tantas vezes os vários episódios da fuga do toiro que, apesar de contarmos apenas nessa época treze annos, nunca nos esqueceram as celebres entradas do dia 24 de Agosto de 1862. Seriam quatro horas, quando chegámos à praça. Escusado será dizer que todos os camarotes e trincheiras regorgitavam de espectadores (cerca de 4.000 pessoas). Após a comparência da autoridade, entrou na arena um vistoso cortejo, trazendo à frente o cavalleiro, seguido dos bandarilheiros, moços de forcado e campinos, todos naturais de Aldeia Gallega. Durante as cortesias a banda marcial, composta também de curiosos e de alguns músicos da extincta sociedade Recreativa, executou o himno de D. Luiz I. Quanto à corrida, não soubemos avaliá-la devidamente, mas lembra-nos ouvir dizer que
correra mais do que regular, attendendo a serem cuirosos todos os lidadôres”.
Praça de Touros Antiga - Local Actual Cine Teatro Joaquim Almeida
Por: José Bastos
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